Esses
dias, dentre as mil conversas do dia a dia, uma conversa que não foi comigo me
chamou a atenção: uma mãe falou para comadre do lado que não esperava mais nada
do próprio filho.
Foi
um disparador bem bom para refletir.
Quando
alguém espera algo de alguém fica imputado uma responsabilidade que aquele que
é alvo da expectativa as vezes nem sabe que tem deveres sobre si. E, mesmo
quando sabe, ganha um peso extra desnecessário. Talvez esperar algo de alguém
diz muito sobre quem anseia.
Criar
expectativas, esperar algo de alguém tem um “q” de inato, pois como vivemos em
sociedade, você espera que o outro tenha algumas condutas para harmonização do
ambiente. Senso de justiça e de injustiça, respostas sociais, condutas pessoais
e coletivas, dentre tantas outras, também faz parte do que esperar, mas se abrir
esse fractal veremos que expectativas permeiam o campo do que foi aprendido
como certo e errado, do que é considerado “a parte que te cabe”; e, quem decide
isso, como você programou o que/quem você é seu, foi inserido com as
experiências que te tocaram. O tema é mais profundo, afinal suas vivências já
estão predefinidas a partir do local, tempo e família que você nasce.
Exemplifico:
Tenho a lembrança de um relato de uma moça que
trabalhou como empregada doméstica em uma casa, onde a filha criança do patrão
comia comidas mais “sofisticadas” – monetariamente falando - e fala rindo para
empregada que ela não pode comer aquele alimento. Esse escárnio é inato ou é
reflexo do modo que uma criança vê seus responsáveis tratando uma garçonete, um
frentista, um porteiro?
O
que esperamos de uma ordem em uma fila é diferente do que almejamos para um
filho. Um é uma regra social de organização, o outro, como o caso da mãe acima, são
desejos seus inalcançados, refletem seu íntimo insatisfeito com o próprio rumo
que sua vida levou e depositou tão fiel em seu filho que não a atendeu.
Na
minha cabeça, criei uma lógica que demorei para colocar no papel: sempre espero
o pior dos outros – seja lá o que for o pior, mas entenda como o mais negativo
possível. Espero o pior do colega de trabalho, do pedestre, da esposa e dos
parentes. Inclusive de mim mesmo (já tenho várias provas para isso). Considero que os únicos que não consigo esperar o pior são os meus
cachorros. Penso assim pois vivemos num estado de sobrevivência muito grande,
no qual para garantirmos nossa existência temos que competir e produzir 24h/dia
e isso é enaltecido e legitimado! No relógio histórico é contranatural.
Recursos básicos como água, luz, teto e comida podem simplesmente ser extraídos
caso você não jogue o tal do jogo. A lógica do “ao vencedor as batatas” é ruim para
tribo que perdeu e para tribo que ganhou, pois se mudássemos a lógica de que o
plantio é limitado e não tem um dono; batata para todos e vamos pensar em outras coisas,
outras alegrias e tristezas.
Torço
todos os dias para estar errado. Fico feliz toda vez que sou desmentido – pequenas
explosões de felicidades internas.

