Velhas histórias

domingo, 10 de setembro de 2023

O QUE ESPERAR DAS PESSOAS?

 

Mãe e filho (Saltimbancos), 1905 - Picasso


Esses dias, dentre as mil conversas do dia a dia, uma conversa que não foi comigo me chamou a atenção: uma mãe falou para comadre do lado que não esperava mais nada do próprio filho.

Foi um disparador bem bom para refletir.

Quando alguém espera algo de alguém fica imputado uma responsabilidade que aquele que é alvo da expectativa as vezes nem sabe que tem deveres sobre si. E, mesmo quando sabe, ganha um peso extra desnecessário. Talvez esperar algo de alguém diz muito sobre quem anseia.

Criar expectativas, esperar algo de alguém tem um “q” de inato, pois como vivemos em sociedade, você espera que o outro tenha algumas condutas para harmonização do ambiente. Senso de justiça e de injustiça, respostas sociais, condutas pessoais e coletivas, dentre tantas outras, também faz parte do que esperar, mas se abrir esse fractal veremos que expectativas permeiam o campo do que foi aprendido como certo e errado, do que é considerado “a parte que te cabe”; e, quem decide isso, como você programou o que/quem você é seu, foi inserido com as experiências que te tocaram. O tema é mais profundo, afinal suas vivências já estão predefinidas a partir do local, tempo e família que você nasce. Exemplifico:

 Tenho a lembrança de um relato de uma moça que trabalhou como empregada doméstica em uma casa, onde a filha criança do patrão comia comidas mais “sofisticadas” – monetariamente falando - e fala rindo para empregada que ela não pode comer aquele alimento. Esse escárnio é inato ou é reflexo do modo que uma criança vê seus responsáveis tratando uma garçonete, um frentista, um porteiro?

O que esperamos de uma ordem em uma fila é diferente do que almejamos para um filho. Um é uma regra social de organização, o outro, como o caso da mãe acima, são desejos seus inalcançados, refletem seu íntimo insatisfeito com o próprio rumo que sua vida levou e depositou tão fiel em seu filho que não a atendeu.

Na minha cabeça, criei uma lógica que demorei para colocar no papel: sempre espero o pior dos outros – seja lá o que for o pior, mas entenda como o mais negativo possível. Espero o pior do colega de trabalho, do pedestre, da esposa e dos parentes. Inclusive de mim mesmo (já tenho várias provas para isso). Considero que os únicos que não consigo esperar o pior são os meus cachorros. Penso assim pois vivemos num estado de sobrevivência muito grande, no qual para garantirmos nossa existência temos que competir e produzir 24h/dia e isso é enaltecido e legitimado! No relógio histórico é contranatural. Recursos básicos como água, luz, teto e comida podem simplesmente ser extraídos caso você não jogue o tal do jogo. A lógica do “ao vencedor as batatas” é ruim para tribo que perdeu e para tribo que ganhou, pois se mudássemos a lógica de que o plantio é limitado e não tem um dono; batata para todos e vamos pensar em outras coisas, outras alegrias e tristezas.

Torço todos os dias para estar errado. Fico feliz toda vez que sou desmentido – pequenas explosões de felicidades internas.


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