Velhas histórias

quinta-feira, 12 de junho de 2025

BEATRIZ

"The Little Shepherdess" – William-Adolphe Bouguereau (1889)


Esses dias eu tava pensando nos diferentes tipos de amor que existem, ou na verdade, os diferentes tipos que eu conheço. Por favor, não pensar em ‘felizes para sempre’, príncipe e princesa, filmes Disney etc.. Desencante o mundo, afinal o amor real, da carne, pode ser sublime.

Um desses amores, aliás... já parou para pensar que quando alguém ama, como sabe que ama? O que sente? Ao que se refere quando fala que ama?

Quando você está com saudade, você AMuA, gera algum grau de tristeza, algum grau de ansiedade, diminui sua potência de agir. E quando ama... paz? Leveza? Aumenta sua potência de agir? Medo de perder o objeto do amor que você não sabe nem definir o que é?

Numa dessas rolagens de rede social, coisa de segundos, apareceu uma frase solta de um irmão que cuida de uma irmã. Sabe aquelas mensagens/fotos que você simplesmente rola, não para para pensar, buscando a tal da dopamina que o pessoal da internet tanto fala, uma passagem de dedo e sumiu. Por algum motivo, essa mensagem ficou igual a uma farpa no dedo, vira e mexe, incomodava. 

Fiquei pensando na minha irmã. Cara, como pode amar alguém desse tamanho? Durante o dia lembrei de várias cenas quando pegava ela no colo quando ela foi bebê, quando eu a tirava do berço e tentava acalma-la do choro. Principalmente quando estávamos só os dois em casa; só tinha eu para cuidar. Das vezes que pegamos ônibus juntos quando eu buscava ela na creche. Da admiração que eu tinha para cada marca do desenvolvimento que ela atingiu. Lembro quando eu perguntava, quando ela foi uma criança um pouquinho maior, “quanto custa uma casa? 14. E uma moto? 48. Uma menina que nunca foi chegada em boneca ou panelinha, mas sim em adrenalina. Pular, correr, subir, dançar.

Hoje ela é uma mulher jovem, 18 primaveras, faz faculdade; faz bicos para se virar com dinheiro, gosta de gente, gosta de viver. Não cumpriu com algumas projeções que eu tentei induzir. Tomou o próprio caminho. Acompanhei de longe. Fui estudar fora. Se tivesse que rotular um preço pago por sair de casa, foi o de acompanhar de longe sua metamorfose, sua formação de caráter. Uma das expectativas que criei foi de ela não ser inocente a ponto dos outros a fazerem de besta. Na proporcionalidade, afinal ela é jovem, deu certo, pois já vi ela fazendo os outros de besta, principalmente os mil namorados.

Não penso em arrependimentos, penso em cicatriz da escolha.


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