Hoje durante uma corrida eu pensei em começar esse texto de diversas
formas. A que eu mais gostei foi: já que eu não posso pagar psicóloga vou
escrever aqui pra ver se ajusta alguma coisa na cachola.
Ontem tive um conflito
comigo mesmo: até quanto tenho que aguentar uma sensação de preso pra manter
algo bom?
Desde
a época que eu me entendi por gente, eu me sinto preso e em dívida.
Primeiro, por ser irmão mais
velho já era dito - você é o mais velho, você tem que olhar seus irmãos!
Como eu ganhava
casa, comida e roupa, na minha cabeça essa era minha parte de contribuir para o
"algo bom", de fazer o certo para as coisas de casa irem bem. Eu
estudava, tentava de tudo para não errar na frente do meu irmão - e acredite ou
não, isso foi uma das coisas que mais pesou pra mim. Não sou muito bom de
lembrar uma história de infância - só as mais marcantes - porém as sensações
desse período estão no âmago. O fato de eu sair com meu irmão de chaveiro me
limitou muito a errar! Eu tava explodindo pra descobrir o mundo, mas eu tinha
que "ser o exemplo".
Logo
quando eu fui ficando mais rapaz, 15,16 anos, eu mudei de colégio. Não tinha
mais familiar na minha cola. O portão era livre, não era o bairro onde eu
morava. Ali eu entendi que eu poderia tentar ver quem eu sou, limites, deveres,
cagadas. Foi ali que eu conheci o álcool, sexo, maconha.
Fui expulso
do museu do Ipiranga porque tava com mais 3 amigos bebendo Natasha com Sprite,
lá nas árvores, 10h da manhã. Foi nessa época que eu comprei minha primeira
playboy - da Cacau do BBB (muito boa revista, aliás). Foi nessa época que tive
vários rolinhos, que eu consegui ir a um cinema com pessoas que gostam da sua
companhia mesmo você falando merda.
Todavia foi
nessa época que tinha que trabalhar na loja dos meus pais. Um caixa/ajudante
geral/faxineiro... o engraçado que eu escutava que essa loja tava sendo
preparada para mim. Não ganhava salário. E nem fui consultado se eu queria
continuar tocando a loja, e como eu me sentia em dívida, não conseguia falar que
não, não conseguia falar nada!
Hoje
eu dou risada que de quem acha que trabalhar com o pai é boiada. Meu amigo, ele
fala que você é dono, você não recebe, você entra na hora que abre e sai na
hora que fecha, isso se não tiver mais coisa para fazer, e ah... almoçou, volta
pra trabalhar.
Não entenda essa trajetória
como se fosse um suplício, com certeza teve momentos bons, histórias legais,
mas quando eu paro para lembrar, a sensação de preso e dívida sempre vêm
primeiro.
Penso que um dos meus recursos
pra eu poder tentar respirar um ar com meu pulmão foi a mentira. A deliciosa
mentira. Sempre do lado do meu ego, da minha certeza, foi ela que me ajudou a
proporcionar momentos de vida. Sabe aquele momento de adrenalina que vc escapou
por um triz de algo ruim e gera aquela sensação de " uuouu! como é legal
estar vivo!". Pra muitas dessas minhas experiências eu tive que usá-la,
caso contrário eu estaria trabalhando ou cuidando de alguém.
Um dia vou escrever sobre como a mentira e vício nessa sensação
afetou/afeta meus relacionamentos, minha interação com os outros. A única
certeza que eu tenho é que um dia vou morrer e todos os dias a sensação de
preso toma café comigo às 7h, 14h e meia-noite.
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