"Self-Made man", Bobbie Carlyle
De
ontem para hoje, fiz mais um plantão noturno no Regional. O bom e velho das
19h-7h. Esse período da madrugada é um momento incrível, vem desde a moça que
bateu o dedinho da mão esquerda há 6 dias querendo atestado porque não consegue
trabalhar – mas consegue mexer no celular e arrumar os cabelos - ao cara que
tem HIV, parou de usar TARV, bateu a cabeça e tem fibrilação atrial.
Dada
essa certeza da incerteza, da apresentação da minha possível ignorância para o
que vai se apresentar, eu sofro. Chego a sofrer 2-3 dias antes do plantão. Durmo
mal, aumento o número de idas ao banheiro, não aproveito o presente.
E se, aparecer uma crise convulsiva que eu não
consiga reverter? E se, eu não perceber algum dado importante e comer bola, e
acabar lascando a saúde dessa pessoa que tá na minha frente? E se, o que eu
estudo ou o que eu sou não é o bastante para atuar na área da saúde?
Essas
ruminações ficam como um colega chato de trabalho, você só sabe que talvez vai
se livrar se você as encarar, for pra cima, arrancar logo o band-aid. Ou quando
o relógio marca 7h.
No
fundo, eu sei que posso discutir casos, pedir opiniões. Eu entendi que medicina
é uma arte coletiva. Contudo, quando você quer construir um nome, e constantemente
você é estimulado a ser o “self-made man” acabam gerando conflitos internos nos
divertidamentes.
O
pior momento de sofrência pra mim, é aquele quando não está tão cedo para ir
pro plantão, mas também ainda vai demorar um pouquinho pra se livrar logo da
responsabilidade. Vejo minha esposa em casa, quentinha, de pijama, embaixo do
cobertor, meus cachorros cobertos, já passeados, e eu me trocando para encarar
frio, fome e a minha grande ignorância.

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