Velhas histórias

domingo, 3 de novembro de 2024

VOCÊ É UM MILHO OU UM RATO?

 

                        A Estudante - Anitta Malfatti , 1915 ou 1916 ou 1918

 

Dia desses, li um texto do Rubem Alves, escritor mineiro, chamado “a pipoca” – aliás, obrigado Nacif, por me apresentá-lo – texto leve, fluído, tem até aquele exagero quando o autor fala que conhece um cara que é cientista em milho... Afinal de contas, qual história é boa de contar se a gente não aumentar um ponto? ... No meio do texto, ele explora o conceito do piruá, de quem eu pego emprestado para esse texto.

Imagine que dentro de você está dormindo um eu, um ser fascinante com habilidades, desejos acobertados que não conseguem ser saciados, e pior, que fazemos questão de deixar eles lá, quietinhos, para não estragar aquilo que achamos o que somos hoje, aquilo que temos segurança, só por ser um diabo conhecido; aí temos o piruá. O milho que não estourou, toda a beleza, gostosura e potencial de pipoca, jogado fora nas cidades ou dado às galinhas no campo.

Penso como funciona o mecanismo para a gente segurar nossos impulsos, nossas vontades; e se o que eu desejo fazer for contra a lei? Por exemplo, sou doido para agredir um colega de trabalho que não trata bem as pessoas, um murrinho só, só pra descer aquele melado, mas eu não posso, porque senão serei punido com processos civis, administrativos e possivelmente até penal. Logo, piruá. Mas, e quando eu reprimo uma declaração de amor? Uma vontade de viver de um jeito, porém sou constantemente obrigado a trabalhar para viver de outro, senão por livre e espontânea vontade morro de fome.

Deixo de pipocar no amor, deixo de pipocar em algo que tenho mais afinidade, para quê? Para ter um conforto financeiro, no qual não passe necessidade com um mínimo para se viver, e se nada terrível acontecer, eu possa ajudar minha família, além de acumular algum patrimônio para que as próximas gerações da minha linhagem não tenham que passar as barras que eu passo? Então a gente NASCE, CRESCE, ACUMULA PATRIMÔNIO e MORRE? Não é possível que sejamos uma geração inteira e gigantesca de piruás, enquanto tem pouca pipoca por aí tomando conta de tudo.

Ah, mas eu não acredito nisso aí não. Ok, reflita sobre essa notícia: https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2024/10/30/camara-emneda-para-taxar-grandes-fortunas.htm

---Título: Câmara rejeita taxar fortunas e termina regulação da reforma tributária… notícia de 30 de outubro de 2024, meu piruazinho.

O legal de pensar como a gente se torna piruá é que pode servir para mecanismos macros, como um banco que pode tomar sua casa, mas você – indivíduo – não pode ir tomar uma casa sem dono. Daí, coletivamente, a gente convenciona por você morar na rua mesmo. No relento. No frio. Na exposição.

Quanto para mecanismos micros. Lembra daquela vez que sua mãe e/ou pai não deixou você fazer/vestir/ir em determinada situação porque para eles não era adequado?... Ah, mas eles só estão tentando me proteger, tentando me educar... Até quanto isso não foi expectativa ou conveniência deles e para eles? E você, mais uma vez, piruá.

Quer um lado bom? De vez em quando, um ou outro piruá estoura. A maioria vai para o lixo... e é ali que o fogo e o óleo quente deveriam estar.


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